Hoje matei um mosquito.
Com a mais bruta das delicadezas.
Por quê? Por que matar o que vive?
Sinto-me uma assassina e uma culpada.
E nunca mais vou esquecer esse mosquito. Cujo destino eu tracei.
A grande matadora. Eu, como um guindaste, a lidar com um delicadíssimo átomo.
Me perdoe, mosquitinho, me per doe, não faço mais isso.
Acho que devemos fazer coisa proibida — senão sufocamos.
Mas sem sentimento de culpa e sim como aviso de que somos livres.
Eu sou o meu próprio espelho. E vivo de achados e perdidos.
É o que me salva.
Estou metida numa guerra invisível entre perigos.
Quem vence?
Eu sempre perco.
Clarice Lispector
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